Observatório

Comunicação - Estratégia

Estratégia de comunicação deve ter foco nas pessoas

A centralidade da estratégia de comunicação está nas pessoas e não nas instituições.

Independente do material de comunicação, estratégia ou canal utilizado, o foco deve estar nas pessoas e o vínculo que podem gerar com a causa.

São os adultos, indiferentemente da função que ocupam ou da tarefa que realizam que escolhem desrespeitar a lei, infringir regras de convivência social, considerar que algumas crianças e adolescentes podem se prestar à exploração sexual. São decisões tomadas com base em diferentes motivações. Portanto, qualquer tentativa de dar visibilidade à questão por meio de discussão pública do tema, de mostrar que não há interesse na impunidade, que possa orientar as pessoas sobre a importância de respeitar a peculiar condição de pessoa em desenvolvimento, é muito bem-vinda e necessária e as empresas, pela sua capacidade de diálogo com diferentes públicos, são fundamentais nesse desafio.

Qualquer proposta de comunicação e/ou sensibilização deve trazer uma abordagem positiva, no sentido de contrapor qualquer tentativa de desrespeitar os direitos da criança e do adolescente.

Não são produtivas nem de interesse do Programa abordagens que "apontem o dedo" a essa ou àquela pessoa. Além de não ajudar a criar o respeito e o imperativo ético que se deseja, essa estratégia dificulta o envolvimento das pessoas em agentes de proteção dos direitos da criança e adolescente. É de fundamental importância sensibilizar as pessoas para o fato de que há, no outro lado da relação, um sujeito de direitos.

Conhecer e reconhecer o outro como sujeito de direitos ajuda no entendimento de que não se pode submetê-lo, mesmo que por aparente vontade própria, à exploração sexual. Essa ampliação de consciência ajuda na prevenção, na rejeição a posturas de omissão, cumplicidade ou mesmo de responsabilidade direta na prática da exploração sexual.

Essa comunicação não moralista, e sim cidadã, deve estar baseada em relações de respeito e não de repressão, posição religiosa, retórica politicamente correta e superficial. Ela deve visar à produção de uma mudança de postura diante do mundo das crianças e dos adolescentes, um repensar da condição de vulnerabilidade de toda e qualquer criança ou adolescente, e não apenas as mais pobres ou as que se encontram nas ruas. Seu objetivo é despertar responsabilidade, postura ética, e não só o temor da lei ou de castigos divinos, como costumava ser a ação nesta área, principalmente pelo fato de envolver a sexualidade humana e, sobretudo, a sexualidade feminina.

A mulher era sempre o alvo principal das campanhas que tentaram abordar a questão da exploração sexual, o que revela certo preconceito. A exploração sexual de crianças e adolescentes envolve também os meninos, mesmo que em número aparentemente menor. Eles ficam submetidos a uma invisibilidade, porque a percepção machista impede que se reconheça essa realidade, que se discuta a questão da homossexualidade, que se rompa com o estigma de que as mulheres são responsáveis por "despertar" nos homens a violência sexual.

Os diferentes públicos de relacionamento da empresa também podem, por meio dos diversos canais de comunicação (intranet/internet, boletins, etc), receber diferentes tipos de informação com foco na promoção e proteção aos direitos fundamentais da criança e do adolescente. Medida que, por si só, já ajuda a ampliar o nível de entendimento sobre as diferentes formas de violência que uma criança ou adolescente está sujeita, em particular, à exploração sexual.

Porém, é de fundamental importância que alguns públicos, como o caminhoneiro e outros profissionais que estão diariamente nas estradas, tenham acesso a informações mais detalhadas sobre o que é e como acontece a exploração sexual de crianças e adolescentes nesses locais.

Na realidade, mais que informar, as empresas e entidades empresariais precisam encontrar meios de engajar esse público. Ações educativas, de comunicação e sensibilização são ferramentas indispensáveis para isso. Porém, precisam estar acompanhadas de uma postura e um posicionamento da empresa que ajudem a identificar e reforçar os valores corporativos.

Falar de uma maneira positiva sobre os direitos de toda e qualquer criança e adolescente, envolvendo o maior número possível de públicos, é também alertar sobre riscos diretos para a empresa. Riscos quanto à segurança, à imagem, à reputação, ao pagamento de multas, ao prejuízo no fechamento de negócios com empresas que não consideram critérios sociais em seus contratos, entre outros aspectos.

Caminhoneiros que se envolvem com exploração sexual de crianças e adolescentes estão colocando em risco a carga, o caminhão, sua integridade, sua saúde, suas relações familiares, seus colegas de trabalho, a gestão de entrega e retirada da carga em diferentes pontos do país, etc.

Postos de gasolina ou outros pontos de parada nas rodovias que permitem que crianças e adolescentes sejam explorados sexualmente no local do seu negócio também estão vulneráveis a outros tipos de ilegalidade, como roubo de combustível, de carga e propinas às autoridades corruptas. Isso mostra o quanto este assunto não é separado de outros e é de interesse do próprio negócio.

Cada setor deve refletir sobre a importância de discutir e agir positivamente contra esse fenômeno, encontrando sua interface com o problema e com a promoção de soluções dentro dos princípios do Programa Na Mão Certa e de práticas empresariais socialmente responsáveis.

Estratégia de comunicação e engajamento da cadeia de negócios

Essa agenda tem impacto direto na atividade empresarial e em seus resultados.

A inserção do tema na relação com fornecedores, clientes e outros parceiros de negócio pode acontecer por meio do compartilhamento de valores e crenças, princípios e práticas que devem ser percebidas no jeito de ser e fazer negócios das empresas.

Uma leitura atenta sobre a forma como as relações comerciais são estabelecidas, assim como a aderência com os valores corporativos, é de fundamental importância. Quando as partes não percebem adição de valor na relação comercial (para além do valor financeiro), em algum lugar haverá fragilidades que podem colocar a empresa diante dos mais diferentes riscos, entre eles, o da exploração sexual de crianças e adolescentes. Quando não há uma parceria de valor, falta qualidade na relação, as partes envolvidas têm mais dificuldade de cooperar, colaborar e crescer juntas, de encontrar uma perspectiva mais sustentável para o desenvolvimento do ambiente de negócio.

Desta forma, antes de tudo, é importante definir com quem e qual o tipo de relação é estabelecida. Responder algumas perguntas exemplificadas a seguir ajuda a identificar se há ou não adição de valor na relação, assim como a levantar quais são os riscos em potencial e, ainda, identificar empresas que compartilham dos mesmos valores.

  • Quem são meus fornecedores e clientes?
  • Que riscos oferecem em relação à exploração sexual de crianças e adolescentes nas rodovias?
  • Que possibilidades ou potencialidades possuem para contribuir na promoção dos direitos da criança e do adolescente?
  • Os valores da empresa são coerentes e percebidos nas relações com fornecedores e clientes?
  • O que pode ser feito na relação que os clientes têm com nossos produtos e serviços?

Além de buscar parcerias e sinergias, é importante evitar a omissão, com base apenas em interesses comerciais com aqueles fornecedores, clientes e parceiros de negócio que oferecem riscos ou efetivamente estão envolvidos com a exploração sexual de crianças e adolescentes nas rodovias. É importante passar a mensagem clara de que não há interesse da empresa, na perspectiva da sustentabilidade e da responsabilidade social empresarial corporativa, em manter negócios com quem explore crianças e adolescentes, é omisso ou conivente com essas práticas.

Em geral, o que se percebe é que a cadeia de negócios vai se articulando para inserir temas da agenda social nos contratos de negócio, pelo entendimento de que essa agenda tem impacto direto na atividade empresarial e em seus resultados. Com isso, há o risco de uma imposição autoritária de padrões elevados de qualidade na prestação dos serviços, o que pode favorecer uma maior concentração de renda nas mãos daqueles que conseguem oferecer essa qualidade, ou seja, as grandes empresas.

Uma postura coerente é aquela que busca envolver os fornecedores, clientes e outros parceiros de negócios nesses temas vinculados à agenda social de direitos humanos, promovendo relações de qualidade, portanto, sustentáveis.

A mensagem principal que deve ficar internamente na empresa e na relação com seus fornecedores, clientes e outros parceiros de negócios é a da corresponsabilidade no enfrentamento da exploração sexual de crianças e adolescentes, em especial, nas rodovias brasileiras.

Com certeza essa postura será muito mais efetiva e dará legitimidade a qualquer cláusula contratual, campanha de comunicação ou inserção do tema em códigos de ética ou conduta que a empresa ou organização empresarial venha a adotar.

 

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