A mais importante atividade anual de articulação entre os atores que se empenham no enfrentamento à exploração sexual de crianças e adolescentes, o 5º Encontro Empresarial foi realizado em outubro em São Paulo. Num momento em que o efetivo envolvimento das empresas signatárias constitui-se na meta fundamental do planejamento estratégico do Programa, a diretora executiva da Childhood Brasil Ana Maria Drummond, em uma frase, sintetizou o desafio conjuntural que se interpõe à solução desta violência que abrevia o desenvolvimento e a inclusão de milhares de brasileiros. “Precisamos de proteção em rede, pois não existe esforço isolado que dê conta de um problema tão complexo.”
Cerca de 120 representantes das signatárias puderam assistir a uma série de exposições e debates sobre o tema. A apreensão dos conteúdos foi fundamental para os profissionais de departamentos de responsabilidade social, RH e sustentabilidade das companhias. Não só vislumbraram as origens socioeconômicas do problema — quase sempre atreladas ao sentimento de marginalização das populações abandonadas pelo poder público e à carência em informação, treinamento e qualidade de vida de muitos dos motoristas — mas também perceberam a necessidade de mobilizar diversos segmentos da sociedade para atuar na prevenção da exploração sexual e no acompanhamento de vítimas e agressores, evitando a reincidência de ambos os lados.
“Não se trata de um ato isolado, descontrole ou patologia, mas um desencadear de questões que envolvem a cultura e o desenvolvimento civilizatório”, definiu o professor Doutor Elder Cerqueira-Santos, consultor da Childhood Brasil e coordenador da pesquisa O Perfil do Caminhoneiro no Brasil. Para o professor, no que compete às empresas, o primeiro passo é a incorporação, nos quadros da empresa, dos valores alinhados ao enfrentamento, transcendendo a rotatividade do mercado de trabalho. “É fundamental criar e manter um projeto de educação continuada que se integre ao dia a dia das empresas, visando garantir um resultado de sensibilização de longo prazo para a causa”.
O comprometimento sólido da iniciativa privada corrobora com o maior objetivo na atuação da Childhood Brasil — nas palavras de Ana Maria Drummond, “ser um catalisador de iniciativas, que una todos os setores da sociedade e influencie a elaboração de políticas públicas”. Isso também passa pela compreensão de que práticas sustentáveis devem ser percebidas pela direção de empresas como um diferencial no mercado — ponto explorado pelo coordenador de programas do Instituto Ethos Renato Moya. “A responsabilidade não é filantropia, mas um valor consciente que deve fazer parte do negócio da empresa, permeando todo o processo produtivo.”
Um dos painéis, que reuniu diversos atores do sistema de garantias de direitos da criança e do adolescente, demonstrou como o enfrentamento da exploração sexual nas rodovias brasileiras exige a articulação de diversas esferas do poder público: desde educadores e assistentes sociais atuando junto à população, auxiliando na identificação e denúncia de casos, até a capacitação de agentes de forças coercitivas como a Polícia Rodoviária Federal, passando pelo mapeamento — por parte de investigações do Ministério Público e coordenadorias da infância e juventude dos Tribunais de Justiça — das redes de tráfico de pessoas e de drogas, para vigiar as garantias previstas pelos direitos da criança e do adolescente. E, logo na base de uma cadeia de forças imbuída de manter a humanidade e dignidade de milhares de vidas, estão os motoristas que atuam como agentes de enfrentamento.
“Nosso objetivo agora é qualificar as empresas para que elas tenham subsídio para fazer com que os motoristas se tornem, de fato, agentes de proteção”, pontuou Rosana Junqueira, coordenadora de programas da Childhood Brasil. “Em um universo de quase dois milhões de motoristas, 20% já conhecem o programa, mas queremos que todos saibam.”
Não à toa, o Encontro também abriu espaço para que cases das signatárias fossem apresentados ao público. Diretores e gerentes da CART, Gerdau, Walmart e Santos Brasil detalharam como influenciaram motoristas de suas empresas, de fornecedores e até mesmo de empresas concorrentes, ao implementarem programas que focaram na valorização do profissional e na reeducação dos mesmos — desenvolvendo material pedagógico, propiciando o diálogo sobre o assunto entre os profissionais, estabelecendo parcerias com instituições do sistema de garantia de direitos para a promoção de palestras, entre outras iniciativas.