Uma pesquisa feita em cinco municípios de Mato Grosso do Sul – Sidrolândia, Maracaju, Nova Andradina, Nova Alvorada do Sul e Rio Brilhante – apontou relação entre a expansão da produção de etanol e o aumento da exploração sexual, principalmente de crianças e adolescentes e de mulheres paraguaias trazidas ao Brasil. O estudo Impactos do Setor Sucroalcooleiro na Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes em Mato Grosso do Sul indicou que grandes empreendimentos alteram as dinâmicas das localidades por onde avançam. Todas as situações de vulnerabilidade de crianças e adolescentes foram informadas às redes de proteção, como conselhos tutelares, polícia e Justiça.
"A expropriação do corpo das mulheres e das crianças está colocada e se torna um valor cultural fundante naquelas localidades", afirmou Estela Márcia Scandola, diretora do Instituto Brasileiro de Inovações Pró-Sociedade Saudável - Centro Oeste (Ibiss/CO), responsável pela pesquisa. "Os serviços sexuais são utilizados inclusive para a manutenção da calma dos trabalhadores diante do fato de estarem longe da família e das suas relações afetivas", disse. A pesquisa traz uma série de relatos de pessoas exploradas sexualmente, clientes e agenciadores de programas.
Realizado em 2009 por encomenda do Comitê de Enfrentamento da Violência e da Defesa dos Direitos Sexuais de Crianças e Adolescentes do estado (Comcex), o estudo foi encaminhado à Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (financiadora), ao Ministério Público do Trabalho e à Secretaria de Saúde de Mato Grosso do Sul. Antes da publicação, o estudo foi submetido ao Comitê de Ética da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS).
Nos municípios em que a pesquisa foi feita funcionam 9 das 21 usinas de etanol do Estado. Mato Grosso do Sul é o quinto maior produtor de etanol do país e teve a maior taxa de crescimento na produção de cana-de-açúcar entre as safras de 2009 e 2010: 22,58%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A estimativa é que a produção de etanol no Estado atinja 2 bilhões de litros neste ano.
A Associação de Produtores de Bioenergia de Mato Grosso do Sul (Biosul) contesta a pesquisa. O presidente da entidade, Roberto Holanda Filho, disse que as usinas participam do projeto Vira Vida, do Serviço Social da Indústria (Sesi), que enfrenta a exploração sexual e promove atividades para crianças e adolescentes que tenham sido abusadas. De acordo com o dirigente, as usinas que se instalaram nos últimos anos na região destinam anualmente cerca de R$ 3,3 milhões para projetos sociais que atendem mais de mil crianças e jovens de até 16 anos. Ele afirma que a presença das usinas incrementou sensivelmente a arrecadação dos municípios e a disponibilidade de recursos para investimento na área social.
A secretária de Assistência Social de Rio Brilhantes, Adriana Correia de Oliveira, contesta a metodologia. "Não concordamos com a maneira como a pesquisa foi conduzida. Não foi aplicado nenhum questionário, não foi feita de fato nenhuma pesquisa. As empresas (usinas) não foram sequer visitadas para saber o perfil dos empregados." Ela informa que o aumento da arrecadação permitiu a oferta de mais moradia e a estruturação, no ano passado, do Centro de Referência Especializado da Assistência Social (Creas). De acordo com a secretária, o município tem conselho tutelar autônomo, eleito regularmente e fiscalizado pela Justiça e pelo Conselho Municipal de Proteção de Crianças e Adolescentes.
Fonte: Agência Brasil