Existe correlação clara entre a exploração sexual de crianças e adolescentes os índices de pobreza, escolaridade, infraestrutura, saneamento, saúde, violência, gastos públicos, renda e emprego. É o que mostra uma pesquisa do Centro de Excelência em Turismo da Universidade de Brasília (CET-UnB) realizada em 2.682 municípios brasileiros onde foram registrados nascimentos de filhos de crianças e adolescentes entre 10 e 14 anos nos últimos anos. O mapeamento faz parte do Projeto de Prevenção à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes no Turismo.
A cada 1% de aumento nos índices de evasão escolar, elevam-se em 0,04% os registros desse tipo de violência. Em cidades de população acima de 100 mil habitantes, o índice sobe a 0,053%. "Nossa pesquisa confirma o que se verifica no cotidiano", diz o diretor do CET-UnB, Neio Campos. O levantamento também aponta que altas taxas de homicídio andam juntas com a exploração sexual. Os municípios mais violentos do país são aqueles que apresentam os maiores índices de crimes contra crianças e adolescentes. A cada 1% de aumento nos assassinatos, são registrado 0,002% mais casos de violência sexual.
"Isso demonstra que a ação do Estado e das políticas públicas são fundamentais para reduzir a incidência da exploração", avalia a professora Maria de Lourdes Mollo, do Departamento de Economia da UnB. Realizada para balizar ações favoráveis ao turismo, a pesquisa CET-UnB expõe uma contradição para o setor: a cada 1% de aumento nas taxas de emprego formal em cidades turísticas, registra-se uma elevação de 0,0001% nos casos de exploração sexual. "É preciso reafirmar política de prevenção à exploração e investir mais em treinamento e capacitação de trabalhadores do setor", diz Campos.
Os principais alvos da "conscientização e sensibilização" para o problema devem ser operadores de turismo, recepcionistas de hotéis, taxistas e empregados de casas noturnas. A pesquisa concluiu que 1% de aumento na renda per capita de um município é capaz de reduzir em 0,001% os casos de exploração infantil. "O crescimento econômico, com melhoria das condições de vida da população, é uma variável-chave para a redução da exploração ou violência sexual no curto prazo", recomenda o estudo.
Fonte: Valor Econômico