O dia 18 de maio é é marcado no Brasil como o Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes. Uma data importante, estabelecida há dez anos, a partir de um crime bárbaro que chocou o país na década de 1970. Embora a exploração sexual seja uma realidade constante na vida dos brasileiros, o cenário de hoje não é o mesmo.
Em 18 de maio de 1973, Araceli Cabrera Sanches, então com oito anos de idade, foi sequestrada em Vitória (ES). Foi drogada, espancada, estuprada e morta. Seu corpo foi encontrado desfigurado por ácido em uma rua movimentada da cidade. Os autores do crime eram dois homens, membros de uma família tradicional no estado. O silêncio da sociedade, onde poucos foram capazes de denunciar o que acontecera, acabou decretando a impunidade dos criminosos.
Vinte e cinco anos depois, esse crime chocante virou uma data importante para chamar a atenção da sociedade para esta gravíssima violação de direitos. No mesmo ano em que o Estatuto da Criança e do Adolescente completava dez anos, 18 de maio foi estabelecido como o Dia Nacional de Combate à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, em uma tentativa de manter viva a memória de Araceli e de encorajar, ano após ano, a todos os brasileiros no enfrentamento desse crime.
Em 2010, comemoramos dez anos da instituição desta data. Em uma década, várias foram as mudanças no cenário brasileiro. Embora a violência sexual contra meninos e meninas ainda seja um crime comum, as denúncias e as mobilizações da sociedade mostram que Araceli não foi esquecida.
Em abril, as denúncias registradas no Sistema de Informação para Infância e Adolescência, usado pelos Conselhos Tutelares de todo o país desde 1997, ultrapassaram a marca de 1 milhão. De maio de 2003 a março de 2010, o Disque Denúncia Nacional realizou mais de 2 milhões de atendimentos pelo Ligue 100, e encaminhou mais de 120 mil denúncias de todo o país.
Nos últimos anos, CPIs em vários estados tentam revelar criminosos e punir pessoas que roubam a infância de milhares de brasileiros. Hoje, a luta pelos direitos sexuais de crianças e adolescentes colocam religiosos atrás das grades e fazem até o Papa, figura maior da igreja católica, se retratar publicamente. Padres são presos, políticos são afastados de seus cargos e respondem judicialmente por seus crimes. Pela internet, pessoas com distúrbios sexuais cometem crimes e também respondem por eles.
Através do Programa Na Mão Certa, conseguimos levar a responsabilidade do enfrentamento e da luta pela garantia dos direitos da infância e da adolescência também ao setor privado. O que vemos hoje não é mais uma sociedade apática, que cala pelos crimes que mancham nossa história. Vemos uma sociedade unida, ciente de seu papel.
Trinta e cinco anos se passaram desde a morte de Araceli. Quantos anos ainda teremos pela frente até que não haja mais Aracelis em nosso país?
Anna Flora Werneck
Coordenadora de Programas