O 3º Encontro Empresarial Na Mão Certa trouxe uma grande novidade: a participação de caminhoneiros em uma rodada especial de debates. Guiada pelo jornalista Pedro Trucão, o encontro reuniu 11 profissionais do volante que contaram os problemas do dia a dia na estrada, os desafios da profissão e os avanços no enfrentamento da exploração sexual de crianças e adolescentes nas rodovias.
A falta de segurança e as longas jornadas de trabalho foram as principais reclamações dos motoristas. Segundo os caminhoneiros, são graves os problemas causados pela falta de policiamento em vários trechos de grande circulação, o que leva ao aumento no roubo de cargas, à falta de assistência aos motoristas e ao favorecimento da ação de redes de exploração sexual de crianças e adolescentes.
"Tem muito posto de gasolina em rodovia que não tem policiamento. E, pra piorar, muitos postos da polícia estão sendo desativados por falta de pessoal", reclamou o caminhoneiro Sérgio do Nascimento, da empresa Julio Simões.
"Vemos o aumento na jornada de trabalho do caminhoneiro, o que acaba comprometendo, e muito, a segurança nas estradas", reforçou o jornalista Pedro Trucão. A opinião foi compartilhada por todos os profissionais presentes no debate, que reivindicaram melhores condições de trabalho. Segundo eles, a carga horária imposta aos motoristas e o rendimento exigido durante as viagens prejudicam a saúde do caminhoneiro e a segurança de todos que utilizam as estradas.
"A maioria dos motoristas não dorme mais que cinco horas por noite. Muitas vezes, a gente não pode parar para ir ao banheiro, porque tem que cumprir a meta mínima de quilometragem. Isso gera problemas graves para a saúde, e pode acabar em acidente", alertou o motorista José Kamber, na profissão há 36 anos.
Cuidado e proteção
A preocupação dos caminhoneiros com a família e os avanços no enfrentamento da exploração sexual de crianças e adolescentes nas estradas também foram destaque do debate. Todos os motoristas presentes declararam ter preocupação constante com a família, em estarem presentes sempre que possível, e reclamaram do fato de muitas empresas proibirem que as esposas os acompanhem no trabalho. Segundo eles, o grande motivo que leva um profissional a buscar programas sexuais, inclusive com crianças e adolescentes, é a ausência da companheira durante as viagens.
"Fala-se muito dos direitos sexuais das crianças e dos adolescentes, mas não podemos esquecer que o caminhoneiro não deixa de ser homem por sair para a estrada, e que ele também tem direitos sexuais", ressaltou Trucão. "A imagem do caminhoneiro começou a degringolar quando começaram as viagens longas, com 20, 30 dias longe de casa. Começaram a surgir os prostíbulos ao lado das pousadas nas estradas porque se sabia que o caminhoneiro estava viajando sozinho, e que tinha necessidade", completou.
"Eu levo a minha esposa nas viagens", declarou o motorista Sérgio do Nascimento. "Fico 20 dias em viagem, e acho importante levar a minha esposa. Ela me ajuda, me alerta se estou correndo, me mantém acordado, e é a companhia que tenho".
"Muitos motoristas procuram serviços sexuais pela falta de uma companheira, com a justificativa de ficar muito tempo longe de casa. Hoje, com a fiscalização, a exploração sexual [de crianças e adolescentes] tem diminuído, mas ainda existe em muitos lugares. O que a gente está fazendo é tentar divulgar o Programa Na Mão Certa, para mudar a visão dos caminhoneiros", afirmou o motorista Daniel Sobotca, da transportadora Binotto.
Os motoristas presentes no painel também reconhecerem a importância de ações como o Programa Na Mão Certa e reforçaram a necessidade de se tornarem agentes de proteção dos direitos da infância e da adolescência. Entretanto, alertaram para as falhas que ainda existem no atendimento das vítimas.
"Para acabarmos com o problema, não depende só da divulgação ou de ações das empresas. Tem que ser um trabalho conjunto com a polícia, com as empresas e com os motoristas", afirmou o motorista Daniel. "Não adianta somente culpar o motorista se o fluxo de atendimento não funciona. A situação está melhorando, mas ainda temos muito para melhorar", completou.