Mães das 40 crianças vítimas de abusos sexuais em Catanduva, a 385 km de São Paulo, temem que a cidade volte à rotina e os principais responsáveis continuem impunes. “Agora a CPI vai embora e vamos voltar a ficar sozinhos, com os criminosos soltos e as crianças presas dentro de casa”, disse a mãe de uma das vítimas.
Passados três meses das primeiras denúncias, a parte pública da investigação volta praticamente à estaca zero. Presidente da CPI da Pedofilia, o senador Magno Malta afirmou, no dia 19 de março, que será necessário refazer todas as sessões de reconhecimento, porque as primeiras foram marcadas por irregularidades. Ele quer psicólogos do Rio Grande do Sul especializados no assunto.
Os senadores e promotores que acompanham o caso ainda não sabem dizer, ao certo, quantas das 40 crianças que alegam ter sido vítimas de abuso passaram por exame médico oficial para constatar os abusos.
Parte das crianças recebeu atendimento psicológico, que constatou sinais de abuso. O Ministério Público, entretanto, não soube estimar quantas, em parte porque os processos correm em segredo de justiça.
Constrangimento
Há relatos de crianças traumatizadas submetidas a calmantes - uma delas internada no hospital - preocupadas com ameaças a seus pais e a possibilidade de terem contraído doenças sexualmente transmissíveis. Uma delas entrou em choque e desmaiou ao depor no Fórum da cidade frente a um suspeito, no dia 18.
As mães disseram à CPI que crianças que denunciaram abusos são submetidas a constrangimento dentro da sala de aula, em alguns casos, pelos próprios professores. De acordo com uma delas, em um dos episódios o professor pediu às crianças que sofreram abuso que ficassem em pé e se identificassem frente aos outros colegas.
Na contramão do aperto vivido pelas famílias, parte dos acusados recebeu todas as garantias constitucionais. Os que se dispuseram a falar à CPI compareceram ao fórum acompanhados por advogados. Os dois principais suspeitos, apontados pelas crianças como autores de abusos chocantes para a maioria das pessoas que ouviu os relatos infantis, foram orientados por seus advogados a não falar.
O médico e o empresário que em princípio foram alvos de mandados de prisão conseguiram habeas corpus do Tribunal de Justiça de São Paulo e estão livres. Eles decidiram não se apresentar à CPI e agora a Polícia Federal tenta encontrá-los e conduzi-los à força até a comissão. Outros dois dos seis acusados presos também ganharam a liberdade, porque a juíza considerou que deveria estender a eles os efeitos do habeas corpus concedido pelo TJ ao empresário e ao médico.
CPI investiga se Catanduva integra rede nacional de pedofilia
A CPI da Pedofilia vai tentar descobrir se os cinco suspeitos de exploração sexual de crianças em Catanduva têm ou tiveram conexão com uma rede nacional de pedofilia desmontada pela Operação Carrossel da Polícia Federal, realizada em 2007 e em 2008.
A informação é do senador Magno Malta (PR-ES). De acordo com ele, se essas ligações forem comprovadas, o número de suspeitos em Catanduva pode ser muito maior. Até agora, as investigações apontam para seis suspeitos presos e dois foragidos.
Malta disse que a CPI da Pedofilia vai buscar verificar se no material apreendido pela Polícia Federal durante a Operação Carrossel há foto das crianças que relataram abusos em Catanduva. "Por isso é necessário chamar a operação da Polícia Federal e nós o faremos, para encontrar a liga disso", afirmou o senador.