Três artistas de peso do Carnaval participaram, desde o dia 4 de fevereiro, de uma campanha estadual na Bahia contra a exploração sexual de crianças e adolescentes. Margareth Menezes, Bell Marques e Durval Lélys são os nomes que estiveram no cartão de visitas do projeto.
A idéia foi aproveitar a alta estação para enfrentar a prática que, de acordo com o Disque-denúncia nacional de Combate à Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes (Ligue 100), correspondeu, em 2008, a quatro em cada 10 ligações da Bahia. Nos dias que antecederam o Carnaval, a promotora de Justiça Lícia Oliveira, à frente da ação no Ministério Público Estadual, considerou o momento propício para chamar atenção ao fato.
Para isso, a campanha, que é anual e já está na quarta edição, contou com peças na televisão e no cinema, spots em rádios, outdoors, banners e panfletos espalhados por pontos turísticos da cidade. Os artistas que estrelam a campanha também ajudaram a divulgar o tema em entrevistas e nos circuitos da folia de Momo, como fez a madrinha do ano passado, Cláudia Leitte.
Para a cantora Margareth Menezes, a ação é de fundamental importância: “É um absurdo a falta de respeito com crianças e adolescentes. Estou muito feliz em participar, pois faz parte da minha obrigação como artista”.
De acordo com a promotora Lícia Oliveira, o objetivo é mobilizar a sociedade para cada vez mais denunciar os casos de violência sexual contra crianças e adolescentes.
No ano passado, o Ligue 100 registrou 1.646 violações na Bahia (417 a mais que em 2007), das quais 42% se referem unicamente à exploração sexual. Na capital, a proporção se mantém: 42,6%. Apesar do dado considerável, Waldemar Oliveira, coordenador do Centro de Defesa da Criança e do Adolescente (Cedeca), considera que os casos de exploração são subestimados.
“Grande parte da sociedade vê as adolescentes exploradas não como vítimas, mas como pequenas prostitutas que querem se dar bem. Por isso, equivocadamente, não denuncia. É o que queremos atacar para que o preconceito seja quebrado”, afirma Waldemar. Ele destaca que, a isso, também soma-se a conivência familiar: “Como vêm de uma situação de pobreza, são essas meninas que levam dinheiro para casa no final da noite”.
Turismo
É essa situação de vulnerabilidade social, associada ao potencial turístico de Salvador, que contribui efetivamente para a incidência de casos de exploração sexual neste período do ano, segundo percepção da socióloga Graça Gadelha. Especialista no assunto, ela assessorou a pesquisa Tráfico de Crianças e Adolescentes Para Fins de Exploração Sexual no Estado da Bahia, lançada em outubro.
De acordo com dados do estudo, o ambiente festivo aparece como principal elemento facilitador da prática, constando em 45% das respostas das vítimas entrevistadas. “Salvador é essencialmente alegre e a festa é uma demanda do jovem, mas a forma como as redes de exploração se apropriam disso é perversa. São mais eficientes que o Estado”, observa a socióloga.
A pesquisa, realizada em Salvador e Feira de Santana, também aponta que, enquanto neste município o tráfico infanto-juvenil acontece pela via da prostituição comum, na capital prevalece o turismo sexual. “Não queremos colocar o turista como único vilão, mas sabemos que neste período há um aumento evidente desta prática criminosa”, salienta Waldemar Oliveira.
O coordenador do Cedeca concorda que o ambiente de festas com todas suas implicações, como o consumo de álcool e drogas, acaba por se tornar um fator de liberalização que influencia na alta de incidências. Graça Gadelha lamenta, entretanto, a ausência de números que provem a realidade. “Enquanto a gente não tiver uma base unificada de dados, teremos dificuldade em dimensionar o fenômeno”.
Fonte: Jornal A Tarde