Casada há 17 anos, Valdecí Pezato Terci, 41 anos, conhece bem as dificuldades enfrentadas por ser esposa de caminhoneiro. Ausências no lar, distanciamento da família, dificuldade em conseguir fretes e manter as contas em dias estão entre os problemas comuns entre a maioria das famílias de motoristas de caminhão. Há cerca de dois meses, Valdecí conheceu o Programa Na Mão Certa, apresentou ao marido e à família, e atualmente é mais uma das grandes aliadas no enfrentamento da exploração sexual de crianças e adolescentes nas rodovias.
Programa Na Mão Certa: Como você conheceu o programa?
Valdecí Pezato Terci: Conheci o Programa Na Mão Certa navegando pela internet. Atualmente, estou fazendo faculdade de direito, e entrei em contato com o Programa quando procurava por um estágio. A iniciativa me interessou muito, porque o trabalho, mesmo simples, é desenvolvido com seriedade. Depois que conheci, apresentei o Programa ao meu marido, Marcos, que é motorista de caminhão há 25 anos, e aos nossos dois filhos. Também levei para o pessoal da faculdade conhecer.
PNMC: Quais as principais dificuldades enfrentadas, em geral, por esposas de caminhoneiros?
VPT: As pessoas costumam dizer que mulher de caminhoneiro é esposa de marido vivo. Até alguns anos, meu marido chegava a ficar de 40 a 45 dias longe de casa. Com isso, a maior responsabilidade sobre a família recai sobre a mulher, porque é ela quem tem que cuidar da casa, tomar conta dos filhos, administrar as contas e resolver todos os problemas que aparecerem. Para o caminhoneiro, os fretes são baixos, as estradas estão mal conservadas, há a falta de segurança nas estradas, a cobrança do horário de entrega, o roubo de cargas. Hoje, a vida do caminhoneiro é difícil, e a esposa acaba compartilhando isso.
PNMC: De que forma o envolvimento com o Programa tem afetado a vida profissional e familiar de vocês?
VPT: Tem influenciado muito, pois, além de termos um filho de 16 e outro de 14 anos, também temos sobrinhos, filhos de amigos e de vizinhos, e acabamos percebendo que a violência sexual é uma monstruosidade que poderia acontecer com qualquer um. É nosso dever evitar que esse mal se propague em nossa sociedade. Na minha opinião, a exploração sexual de crianças e adolescentes deveria ser um crime com altos graus de punição. Mas, infelizmente, grande parte da população no país sofre com a falta de empregos, condições de saúde e de educação, e acabam favorecendo a exploração em troca de um prato de comida.
PNMC: Na sua opinião, como as esposas podem apoiar os maridos caminhoneiros em iniciativas de enfrentamento à exploração sexual de crianças e adolescentes nas rodovias?
VPT: Podemos ajudar participando mais da vida dos nossos maridos, seja pessoalmente ou por telefone, quando estão em viagem. Temos que dividir com eles a preocupação e o envolvimento com iniciativas que façam diferença em nossa sociedade. Mas, como esposas, também temos o dever de denunciar e de zelar por nossas crianças.