Fotos: Romero Cruz
No 13º Encontro Anual Na Mão Certa, o jornalista e radialista Trucão, embaixador voluntário da causa, destacou a importância dos estradeiros no enfrentamento da exploração sexual de crianças e adolescentes e apresentou Sula Miranda como nova aliada da causa.
Antes de chamar todos os caminhoneiros no palco, Trucão, parceiro desde 2008 do Programa Na Mão Certa, fez uma homenagem aos estradeiros pedindo para exibirem no telão mais um trecho do filme “Mundo sem Porteira” – ponto exato no qual o jornalista fez uma roda de conversa com motoristas em um posto de estrada. “Existia um estigma na sociedade que os caminhoneiros eram os vilões das estradas, mas nossa aliança com eles no Programa confirma que ninguém melhor do que eles para ajudarem a transformar a realidade de crianças e adolescentes exploradas sexualmente nas estradas”, disse Trucão, emocionado com o novo cenário brasileiro.
Para Trucão, o maior desafio da Childhood Brasil com o Programa Na Mão Certa era falar sobre a prevenção e o enfrentamento da exploração sexual de crianças e adolescentes com quem era tido como explorador – no trecho do curta-metragem de Gisela Arantes, os caminhoneiros se mostram como pais de família, sempre preocupados com as crianças e adolescentes e fazendo relação com os filhos que os esperam em casa.
Tornou-se comum um caminhoneiro ligar para o radialista quando vê algo suspeito envolvendo criança ou adolescente em um posto. “Durante o Programa eu faço o alerta ao vivo, dou o nome do posto e peço para não pararem.” Porém, Trucão chama a atenção para o fato de que a exploração sexual de crianças e adolescentes não está somente nos postos, que hoje passam por uma maior fiscalização, mas em pontos pela estrada, como entradas para pequenas cidades. “Os nossos amigos da estrada conhecem cada pedaço das rodovias e por isso são a peça principal nesse enfrentamento.”
Embaixadora
Antes de encerrar, Trucão pediu que todos os caminhoneiros subissem no palco e anunciou a cantora Sula Miranda como a mais nova voluntária da Childhood Brasil no Programa Na Mão Certa. A rainha dos caminhoneiros cantou e puxou o coro com os estradeiros e a única caminhoneira do evento, Leda da Silva Miguel, de 56 anos.
O momento emocionante ficou por conta do depoimento voluntário do senhor Antônio Victor Ramos, conhecido como “Boy”, de 71 anos. “Eu queria que o Brasil todo ouvisse o que nós ouvimos aqui hoje. Porque nosso mundo amanhã está nas mãos das nossas crianças. Temos a obrigação de lapidar essas pérolas para elas brilharem e não serem pérolas enferrujadas”, disse o experiente caminhoneiro, emocionando as pessoas presentes.
Pedro Trucão, Eva Dengler, motorista Antônio Victor Ramos da Risel Combustível e Sula Miranda
Fora do palco, quando todos foram registrar o momento especial ao lado de Sula Miranda, falamos novamente com Leda, a representante das caminhoneiras, que, para espanto de alguns, garantiu não sofrer nenhum preconceito pelo fato de ser mulher. “Os homens aceitam e chegam a se doer por nós. Se não tem banheiro feminino nas empresas ou nas paradas, eles arrumam um lugar, vão atrás”, contou a estradeira de 56 anos. “É uma coisa maravilhosa estar na estrada e dá uma sensação enorme de liberdade.”
Leda, que trabalha há 5 anos na Transportadora Liran, nunca viu nada que devesse ser denunciado, mas está sempre de olho: “É raro ver algo porque os postos estão cada vez mais colocando segurança e impedindo que as meninas circulem por ali. E às vezes é difícil saber se são menores de 18 anos, porque elas usam maquiagem e roupa de mulher. Eu nunca vi, mas já ouvi muitas histórias”.
Pedro Trucão, Leda Miguel, caminhoneira da Liran Transportes e Logística e Sula Miranda
Vagner de Oliveiras, de 51 anos, também disse que nunca viu, mas que denunciará se presenciar algo na estrada. Tenho uma filha de 15, um filho de 24 e um neto de 5 anos. “Não quero para ninguém o que eu não quero para eles. Denuncio na hora”, disse o funcionário FL Brasil Holding.
Pouco antes de voltar para casa, “Boy” ainda demonstrava gratidão e satisfação por ser um agente de proteção do Programa. “Graças a Deus, vocês (Childhood Brasil) surgiram para defender a gente”, disse o experiente caminhoneiro. Nós é que agradecemos, senhor Antônio!
Até mesmo pelo título de rainha dos caminhoneiros, Sula Miranda há tempos “paquerava” a Childhood Brasil e o Programa Na Mão Certa, mas ainda não tinha dado namoro. “Tudo tem a hora certa para acontecer. E desta vez eu digo que um amigo caiu do céu, feito um anjo, e fez tudo dar certo.”
Para a cantora, a Childhood Brasil foi atrás desse homem que a sociedade não sabia quem era. “O Programa revelou que eles (caminhoneiros) são poderosos. São país de família e têm muitas necessidades nas estradas. Poucos os valorizavam e acho que muita coisa mudou após a greve (os caminhoneiros pararam o Brasil na greve de 2018). Eu já enxergava a importância e o valor deles, mas agora a sociedade também sabe reconhecer.”