Programa Na Mão Certa

Compromisso 3 – Estabelecer relações comerciais com fornecedores da cadeia de serviços de transporte que estejam comprometidos com os princípios do Pacto Empresarial

Reinaldo Bulgarelli*

O Compromisso 3 trata de um dos temas mais delicados, pois envolve um conjunto de ações na relação da empresa com seus fornecedores e clientes:

  • Inclua cláusula social nos contratos com fornecedores abordando o enfrentamento da exploração sexual de crianças e adolescentes nas rodovias.
  • Discuta com a área que responde pelos contratos com fornecedores a possibilidade de criar uma cláusula que aborde o enfrentamento da exploração sexual de crianças e adolescentes nas rodovias brasileiras, semelhante às que já existem contra trabalho infantil, preservação do meio ambiente etc...
  • Incentive o compromisso com o Pacto Empresarial nas redes de valor com fornecedores e/ou clientes.
  • Divulgue essa ação nos encontros e grupos de fornecedores e clientes; promova a disseminação dessa causa em suas redes de valor; pense num projeto coletivo.
  • Apóie as micro, pequenas e médias empresas de sua cadeia de valor no engajamento desta causa.
  • Trabalhe como “âncora” junto a essas empresas, disponibilizando material e tecnologia para o enfrentamento da exploração sexual de crianças e adolescentes nas rodovias brasileiras. Invista sempre no diálogo e no engajamento para resolver o problema, e não apenas para se livrar de fornecedores que oferecem riscos ao seu negócio.
  • Estruture programa de certificação dos fornecedores.
  • Estabeleça um processo que avalie e reconheça, oficialmente, a prática de enfrentamento da exploração sexual de crianças e adolescentes em sua cadeia de fornecedores.

A questão da exploração sexual de crianças e adolescentes nas rodovias brasileiras não pode ser enfrentada isoladamente. A idéia do Programa Na Mão Certa é mobilizar uma ampla rede de organizações num processo de ondas de envolvimento, formação e fortalecimento de um movimento empresarial que compartilhe princípios comuns, estude e encontre soluções conjuntamente.

Este movimento já está formado com as dezenas de empresas que aderiram ao Pacto Empresarial. Elas têm no Programa um espaço de troca, fortalecimento de suas práticas internas e no coletivo das ações no âmbito mais amplo.

Essa motivação para atuar conjuntamente, mesmo entre empresas concorrentes, se sustenta no vínculo do tema com a identidade organizacional. Ou seja, não é criação de diferenciais competitivos, mas significativos.

Como se dá esse vínculo?

Cada organização é estimulada a fazer uma leitura de sua missão, visão, valores e princípios de negócio em geral para encontrar no “coração” da empresa os fundamentos para participar desta causa.

Não se trata apenas de uma questão estratégica, porque esta vem depois e trata da escolha de caminhos para o sucesso da empresa, sempre a partir dos valores universais que ela assumiu e que definem sua identidade.

O enfrentamento da exploração sexual de crianças e adolescentes nas rodovias é compromisso com direitos humanos e com valores universais. Inscreve-se, portanto, na identidade organizacional, na decisão da empresa sobre sua forma e ser no mundo. A maneira de fazer negócios ou suas estratégias é uma decorrência desta escolha que expressa sua identidade e marca sua presença na sociedade.

Se a questão está vinculada aos princípios da empresa e não apenas às suas estratégias, há algumas conseqüências, entre outras, que podem ser analisadas aqui para melhor entendimento do Compromisso 3.

A primeira conseqüência é que ela é inegociável: não pode depender do momento da empresa, se tem resultados bons ou ruins no ano.

A segunda conseqüência é que essa vinculação permite alianças estratégicas e até parcerias com concorrentes para atuação conjunta, porque o diferencial competitivo vai se dar por outras questões.

A terceira conseqüência é que o vínculo aos princípios não gera responsabilidade apenas com os fornecedores, mas também com os clientes. Inclui o risco de perder contratos e também a possibilidade de estabelecer outros melhores, mais afinados com essa identidade da empresa.

A quarta conseqüência é que a mobilização de clientes e fornecedores ganha um caráter de compartilhamento de valores e não de imposição.

Temas de sustentabilidade, responsabilidade social ou, em suma, de direitos humanos não podem servir de motivo para exclusão e maior concentração de renda do que a que já vivenciamos no país hoje. Se estes temas servem apenas para fortalecer as grandes empresas, as que têm melhores condições de responder aos níveis de exigência que os negócios atualmente estabelecem, há uma contradição a ser enfrentada.

Compartilhar valores e mobilizar sua cadeia de valor supõe diálogo, cooperação, co-responsabilidade e atenção com o desenvolvimento de parceiros de negócio – clientes, fornecedores e concorrência. É fundamental estar alinhado com valores universais e desafios globais que dizem respeito ao sucesso de todos para que cada um tenha sucesso individualmente.

Há empresas que estipulam critérios para estabelecer contratos e esperam um mundo pronto, acabado. Excluem automaticamente os fornecedores que não se enquadram no perfil desejado. Há empresas que se posicionam, estabelecem critérios e metas para melhoria do desempenho em temas de responsabilidade social, desenvolvendo seus fornecedores para que atinjam a situação desejada. Estabelecem prazos e formas de adequar situações que envolvem até mesmo cooperação da contratante com a contratada.

Qual o limite? Como gerenciar o risco presente numa postura e noutra? A prática vem demonstrando que cada empresa encontra sua maneira de gerenciar esses riscos da melhor maneira, mas o princípio que as rege faz toda diferença na qualidade da relação que estabelecem com fornecedores e a qualidade da contribuição que oferecem à sociedade.

O conjunto de ações apresentado no início deste artigo tem esses princípios e visão de mundo inspirando as práticas sugeridas. Visam fortalecer um movimento de diálogo em torno de valores e, por conseqüência, de estratégias comuns para o enfrentamento da exploração sexual de crianças e adolescentes nas rodovias brasileiras.

Junto com fornecedores e clientes, a meta maior é eliminar os riscos por meio de posturas, procedimentos e cuidados em geral para que não haja conivência, omissão ou até uso cotidiano da exploração sexual de crianças e adolescentes como algo “natural”, que faz parte das características da atividade empresarial.

Que jamais, depois da existência do Programa Na Mão Certa e da assinatura do Pacto Empresarial, alguma empresa seja surpreendida, na cadeia de valor em que está inserida, com uma denúncia de que está envolvida com a exploração sexual de crianças e adolescentes nas rodovias. Que jamais uma empresa seja surpreendida com o rompimento de contrato sem que seu fornecedor ou cliente tenha dialogado com ela sobre o tema, compartilhando valores, mobilizando, sensibilizando, encontrando formas conjuntas de cooperar para evitar ou resolver os riscos existentes.

A leitura do artigo sobre o Compromisso 2, que tratou de campanhas e do sentido da mobilização social em torno do tema, pode contribuir na definição de estratégias em relação ao trabalho aqui sugerido junto a clientes, fornecedores e concorrentes ou toda a cadeia de valor das empresas. Ao tratar de mobilização social, o artigo traz dicas que reforçam essa postura inclusiva de quem quer envolver mais pessoas e organizações, e, não apenas se livrar de problemas.

* Reinaldo Bulgarelli é diretor da empresa de consultoria Txai Cidadania e Desenvolvimento Social

 

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