Um passo muito importante foi dado para a transferência da metodologia do Programa Na Mão Certa para solo argentino, com a realização, em 13 de agosto, do 1º Encontro Empresarial para o enfrentamento da exploração sexual de crianças e adolescentes nas rodovias argentinas, que reuniu em Buenos Aires os representantes de embarcadoras e transportadoras daquele país, representantes da OIT e organismos oficiais locais ligados à defesa dos direitos da infância, como a RED de Empresas contra el Trabajo Infantil, ligado ao Ministério do Trabalho, Emprego e Seguridade Social.
O encontro foi promovido pela Childhood Brasil junto com a organização parceira Associación por los Derechos Civiles (ADC), a organização não governamental que será a responsável por implementar as ações relacionadas ao Programa Na Mão Certa na Argentina.
“Desde 2009, com a ajuda de empresas brasileiras que também atuam na América do Sul, estamos articulando para transferir nossa metodologia para os países da região. A Argentina foi escolhida como o país piloto desta iniciativa”, afirmou a coordenadora do Programa Na Mão Certa, Rosana Junqueira.
Rosana se refere ao esforço realizado pelo Núcleo de Expansão América do Sul do Programa, formado inicialmente pelas empresas Arcor do Brasil, C&A Modas, Construção e Comércio Camargo Corrêa, Gerdau, Gafor, Transportadora Augusta e Cadbury-Adams.
No processo de trabalho ao longo dos últimos anos, o foco foi firmar alianças estratégicas com empresas e organizações voltadas aos direitos humanos. O primeiro passo das empresas do Comitê foi realizar um diagnóstico do problema nas rodovias argentinas: um levantamento que consultou 94 motoristas de sua cadeia de negócios atuando em território argentino e revelou a percepção destes caminhoneiros quanto ao problema.
Os dados foram apresentados no 1º Encontro e mostram que, segundo 56% dos entrevistados, é comum ver crianças e adolescentes em situação de exploração nas estradas argentinas. Quase um terço deles (32%) afirmaram ter amigos que fazem programas com crianças e adolescentes em situação de exploração sexual. Outros dados revelam como a presença da rede de exploração sexual neste ambiente é forte: 52% disseram ter amigos que saem com prostitutas, e 66% revelaram que há prostituição em rodovias e postos de combustíveis.
Em 2010, foi realizada uma pesquisa com apoio da Fundación Arcor, que trouxe o diagnóstico situacional do problema na Argentina. Foi constatado na pesquisa que as políticas públicas de enfrentamento na Argentina não têm um foco específico para a exploração sexual de crianças e adolescentes. Além disso, o recurso é escasso e focado em ações pontuais de repressão. “Não existem campanhas com mensagens destinadas à população adulta ou infantil para conscientizar e informar sobre o tema”, explicou Silvia Chejter,coordenadora da pesquisa e professora titular de Ciências Sociais da Universidade de Buenos Aires.
Como resultado, Silvia cita dados da administração da região metropolitana de Buenos Aires que refletem o baixo índice de registro e condenação de casos. “Considerando um período de 14 anos entre 1992 e 2006, de um total de 38 denúncias de exploração sexual de crianças e adolescentes, 33 chegaram à instância judicial e destas, apenas 9 resultaram em condenações”, disse.
Retorno positivo
A coordenadora Rosana Junqueira apresentou ao público presente o modelo de atuação intersetorial do Programa Na Mão Certa e as estratégias para tornar a mobilização em prol da causa um valor empresarial. A plateia também assistiu a cases das signatárias Arcor do Brasil, Gafor e InterCement, que compartilharam todo o histórico de seu compromisso pelo enfrentamento no Brasil.
As signatárias brasileiras falaram sobre articulação da cadeia de fornecedores em torno da causa; aperfeiçoamento de ações de responsabilidade social com foco nos direitos de crianças e adolescentes, investindo em organizações e projetos sociais que desenvolvem a temática nas áreas impactadas pelos seus empreendimentos, e conscientização de seus colaboradores sobre a exploração sexual de crianças e adolescentes nas rodovias.
Os representantes das empresas argentinas apontaram desafios e ações possíveis para ampliar a frente intersetorial do País, dentre eles articulação com o sindicato dos caminhoneiros; engajamento do setor empresarial através das câmaras setoriais e alianças estratégicas com entidades empresariais locais foram alguns caminhos propostos.
Ao final do evento, os empresários reafirmaram a vontade em participar da construção de um processo planejado de envolvimento com a causa, tomando parte em uma iniciativa coletiva de responsabilidade social como o Programa, que permite amplificar o impacto das ações do setor empresarial.