A história da rodovia BR-163, que liga Cuiabá (MT) a Santarém (PA), revela muito sobre a falta de sustentabilidade dos modelos de desenvolvimento da Amazônia nos últimos 30 anos. É o que revela o livro BR-163 – De estrada dos colonos a corredor de exportação, recém-lançado pelo geógrafo Messias Modesto dos Passos. A obra traz informações que podem contribuir para a erradicar a exploração sexual de crianças e adolescentes na rodovia.
Em
maio foi firmado o Pacto de Santarém, uma série de compromissos
para combate a esse crime na área de influência da estrada,
entre Guarantã do Norte (MT) e Santarém. A iniciativa faz
parte do Projeto de Enfrentamento da Violência Sexual contra Crianças
e Adolescentes na Área de Influência da Rodovia BR-163, desenvolvido
pela Secretaria Especial de Direitos Humanos (SEDH) em parceria com uma
Comissão Interministerial dedicada ao tema.
Políticas públicas descontínuas, exploração econômica irracional, exclusão social e devastação ambiental foram o cenário identificado na pesquisa de Messias Modesto dos Passos. O autor é professor do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Estadual Paulista (Unesp) em Presidente Prudente e estuda a Amazônia há mais de duas décadas.
Resultado de projeto de auxílio a pesquisa apoiado pela Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), a publicação inclui um DVD com vídeos e fotos. Conforme o geógrafo, quando a estrada foi inaugurada, em 1976, no contexto do Plano de Integração Nacional (PIN), a expectativa era abrir caminho para a colonização e para o desenvolvimento.
Exclusão social
"Milhares de pessoas foram atraídas para lá, mas hoje constatamos que o sonho delas, de acesso à terra, não se realizou: as políticas públicas originais foram abandonadas e substituídas por um modelo produtivista", diz Passos. "O resultado foi exclusão social e domínio das grandes corporações em detrimento das preocupações socioambientais".
O professor explica que, a partir da crise do petróleo de 1973, as políticas públicas se voltaram para a colonização comercial e a colonização social foi abandonada: "Com a sedimentação do agronegócio, houve apoio do mercado internacional na parte mato-grossense, mais desenvolvida. Na outra ponta, ficaram os colonos praticamente abandonados". Nesse processo, a estrada deixou de ser uma via de colonização para se transformar em corredor de exportação. O diagnóstico mostra que o Estado vai a reboque dos problemas: "Ele deveria estar mais presente, ativo, criando políticas de orientação", sugere.
Com informações de Fábio de Castro – Agência Fapesp