Todo mês de julho, quando chega o dia 25, as estradas do país vivem momentos especiais: eventos, palestras, festas. É o dia do motorista. No caso do caminhoneiro, contudo, a situação não é das melhores. Pesquisas divulgadas em 2007 fizeram um raio-x deste profissional: entre os entrevistados, 66% são usuários de anfetaminas (rebites); 31% já sofreram acidentes. È alto o índice de diabetes e pressão alta.
Segundo
o Sindicato das Empresas de Transportes de Carga de São Paulo e
Região, os caminhoneiros são responsáveis por 65%
do escoamento da produção brasileira. Eles estão
entre os principais profissionais responsáveis pelo funcionamento
da estrutura produtivas do país.
A qualidade de vida dos caminhoneiros, contudo, deixa muito a desejar. Pesquisas divulgadas em 2007 mostram problemas com drogas e doenças graves. Artigo publicado pela revista de Saúde Pública em abril de 2007 analisou a incidência do uso de álcool e anfetaminas entre os caminhoneiros. Foram estudados 91 profissionais abordados em um posto de combustíveis na cidade mineira de Passos. Os resultados indicaram que 66% dos caminhoneiros usavam anfetaminas durante os percursos de viagens, principalmente em postos de combustíveis (54%) à beira das rodovias. O álcool era utilizado por 91% deles, dos quais 43% consumiam a bebida nos postos de combustíveis. A pesquisa foi realizada por Eurípedes Costa do Nascimento (Universidade Estadual Paulista), Evania Nascimento e José de Paula Silva ( Fundação de Ensino Superior de Passos).
Em outra pesquisa, realizada com 1014 motoristas de caminhão, 735 declararam fazer uso de bebida alcoólica. Nesse grupo, 31% (229) já sofreram acidente de trânsito, 196 tinham alguma doença crônica e 189 faziam uso de medicamentos. A hipertensão arterial severa foi identificada em 70 motoristas e a diabetes mellitus em 33, sendo que 56 apresentaram níveis glicêmicos considerados altos e que poderiam levar a diabetes. "A questão é preocupante, pois eles não têm percepção desse risco", relata a professora Sandra Cristina Pillon, da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) da USP, que orientou o trabalho realizado pela mestranda Josélia Benedita Carneiro Domingos. As alunas Fernanda Bruzadelli e Ligia Arantes também participaram da pesquisa.
A professora Sandra foi entrevistada pelo Serviço de Comunicação da USP de Ribeirão Preto. Ela disse que a vulnerabilidade de todo o grupo para o adoecimento é muito grande, pois a própria condição de trabalho, de até 12 horas diárias, leva ao sedentarismo, a noites mal dormidas, sem contar o uso das anfetaminas, muito presente nesse meio. Sandra ainda alerta para o fato de que são pessoas que não fazem checagem da saúde com freqüência e também param de tomar os remédios prescritos para beber. “Os riscos são bastante favoráveis, pois as condições de saúde são precárias, a maioria afirmou que nunca pensou em pressão arterial alterada como doença crônica”, afirma.
O estudo foi feito junto com a Campanha "Saúde na Estrada", da Autovias, concessionária que opera nas rodovias da região de Ribeirão Preto. O objetivo era rastrear o uso de bebidas alcoólicas entre motoristas, principalmente de caminhões, conhecer a percepção deles quanto aos riscos da bebida e a sua associação com medicamentos e ainda iniciar um programa de prevenção junto a essa população, levando a informação sobre o uso saudável da bebida alcoólica, deixando claro quais são os limites.
Os dados foram obtidos em duas das campanhas promovidas pela concessionária, em agosto e novembro de 2006. No perfil dos entrevistados estão homens casados, com baixo nível de escolaridade, da religião católica, com idade média de 40 anos e que trabalham de 10 a 12 horas diárias.
A professora pretende ampliar esse estudo, firmando convênio com a Autovias, e aproximar os alunos da Enfermagem da prática, mantendo e investindo mais no trabalho preventivo nas estradas, sempre voltado para o uso do álcool.
Situações como essas levaram o Programa Na Mão Certa à certeza de que, para ter sucesso, o enfrentamento à exploração sexual de crianças e adolescentes nas estradas brasileiras não deve atuar de forma isolada. “Existe um sério problema ligado à qualidade de vida desses profissionais”, afirma Carolina Padilha, coordenadora do programa. “Além de um projeto de educação continuada que aborde o tema da exploração sexual, empresas e sindicatos devem promover ações efetivas para melhorar a qualidade de vida e de trabalho dos caminhoneiros, e consequentemente, melhora de sua auto estima”, conclui Carolina.